domingo, 15 de maio de 2011
Trair faz Parte da Natureza das Pessoas que não Sabem Amar!
Elas sabem muito bem como seduzir e gostam de se sentir amadas, mas só amam a si mesmas. Inconsequentes, não percebem que ao trair causam sofrimento. Algumas de suas vítimas ficam tão aturdidas que não se separam, mesmo sabendo que foram enganadas. Precisam de um tempo para desfazer a imagem ilusória que tinham do parceiro ou da parceira desleal.
por Leniza Castello Branco*
De repente, veio a certeza: aquela pessoa que ela amava, com quem já estava há tantos anos, em quem confiava, com quem tinha ótimo sexo, que era carinhoso, confidente e tudo o mais a traia! Ela já desconfiava das viagens, telefonemas escondidos, presentes inesperados, novas ideias para o sexo. Mas não queria acreditar. Afinal, seria muita falta de caráter de uma pessoa que tinha a sua confiança e dedicação e de quem ela se orgulhava. Além de se sentir enganada, via desmoronar a imagem que tinha do companheiro.Trair é natural para algumas pessoas. Elas não percebem que com isso destroem amores verdadeiros e ferem quem não merece. Trair faz parte da natureza de algumas pessoas que não conseguem amar. Como o aventureiro italiano Giacomo Casanova (1725-1798) ou o Don Juan da literatura, elas seduzem vários ou várias, mas não são fiéis a ninguém. Amam somente a si, amam se sentir amadas e desejadas.A mulher a quem me referi acima sabia com quem estava lidando. No passado ele tinha tido várias mulheres ao mesmo tempo e isso era de seu conhecimento. Tratava todas com delicadeza, carinho, desejo. Tinha o poder de deixá-las apaixonadas. Comportamento que é típico dos traidores.Confirmada a infidelidade, veio o dilema. Como agir? Armar um barraco, gritar, agredi-lo, chorar, expulsá-lo de casa? Ou fingir que não sabe, guardar para si a humilhação e a dor e apenas dar indiretas, fazer comentários velados? Ter uma conversa civilizada, dizer que o ama mesmo assim e que esquecerá tudo se ele decidir ficar com ela? Ou apenas terminar, sem nem falar por que, já que ele sabe muito bem a razão?Nenhuma dessas opções parece satisfatória. É como se ela estivesse numa estrada e de repente caíssem barreiras na frente e atrás do carro. Não dá para seguir nem para voltar. Se armar um barraco, vai perdê-lo para sempre; se fingir que não sabe, talvez somatize a negação, o sofrimento e fique doente, com insônia, enxaqueca ou algo pior. O ideal seria uma conversa verdadeira; mas ela sabe que ele vai negar, dizer que ela é louca por não ver que ele a ama, que tem tesão, que além dela é só o trabalho.O fato é que ela ainda o ama, embora não agüente ser tratada como burra. Sente uma dor imensa, não para de pensar nele com a outra. Sente culpa: será que isso aconteceu porque ela envelheceu ou se descuidou, será que já não é bonita, onde teria errado?Não é nada disso. Mulheres maravilhosas como Sandra Bullock (46) e Nicole Kidman (43) também foram traídas. Como dissemos antes, trair, para algumas pessoas, é uma compulsão.Se ela não consegue terminar a relação, talvez a solução menos dolorosa seja continuar nela mais um tempo - para ir, aos poucos, deixando que morra a imagem falsa que tinha desse homem; para se conscientizar de que o homem que ela amava não era ele, mas um reflexo dela mesma. Assim, devagar, ela irá deixando de gostar dele e poderá se abrir para outros interesses, dedicar-se a si mesma, encarar, enfim, a realidade. Resta-lhe o consolo de saber que não é só com ela que isso acontece, e que tudo acaba um dia, como uma flor que murcha, uma nuvem que passa, uma onda no mar. E que o mais importante é manter sua integridade, seu compromisso com a vida e saber que ela, sim, nunca traiu, apenas amou de verdade.
* Leniza Castello Branco, psicóloga e analista junguiana na capital paulista, é membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA). E-mail: leniza.castello@terra.com.br
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